Entrevista com Eduardo Chiletto

Entrevista realizada por acadêmicos do primeiro semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIC…

 

Acadêmicas do curso de Arquitetura e Urbanismo

 

Biografia do Arquiteto

 – Nome: EDUARDO CAIRO CHILETTO

– Cidade natal: RIO DE JANEIRO

– Formação: ARQUITETO E UBANISTA

 1. O que o levou a escolher a profissão de Arquitetura e Urbanismo?

Bom… Para ser sincero… Foi uma namorada. Na época eu fazia Engenharia Civil na PUC-RJ por influência dos meus pais, que na realidade queriam que eu fosse Engenheiro Naval. Eu tinha passado no vestibular para a Escola Naval e para a PUC-RJ. Foi quando percebi que não gostava muito de receber ordens e nas forças armadas é o que mais se faz… Aí decidi fazer PUC.

Lá comecei a namorar uma menina, na realidade a primeira mulher que fez meu coração bater bem duro… rsrsrsr, que fazia Desenho Industrial e percebi que não gostava de calcular e sim de projetar. Eu a via todos os dias e seus trabalhos. Aí percebi que minha vocação era ser ARQUITETO.

Precisei sair da PUC-RJ porque não tinha o curso de arquitetura naquela época e me transferi para a Santa Úrsula também no Rio de janeiro.

Foi extremamente fácil para eu fazer o curso, porque parecia que a arquitetura estava na minha alma. A arquitetura se tornou poesia…

  2. Qual a área em que melhor se expressa? Pós-graduação? Salários mínimos?

Gosto muito de trabalhar com projeto de arquitetura, entender questões antropológicas, sociológicas, filosóficas e conhecer história são fundamentais para um arquiteto que deseja projetar. Não é a toa que em quase todos os cursos do país de arquitetura e urbanismo essas disciplinas estão na fundamentação do curso… Logo no início.  Na pós-graduação procurei as questões de conforto ambiental, mas acabei fazendo meu mestrado em Física e Meio Ambiente (UFMT) com estudos de clima (que também envolvem as questões de conforto ambiental). Já no doutorado resolvi focar mais na área de arquitetura, urbanismo e tecnologia (USP) e estudar um pouco mais de conforto ambiental e eficiência energética nas edificações.

Quanto às questões salariais… Infelizmente é um absurdo o que se paga nas instituições públicas para o profissional da arquitetura… Acredito que uma boa atuação do nosso sindicato, poderia reverter um pouco esse quadro caótico.

Na iniciativa privada, o que vemos é um total desrespeito a tabela de honorário registrada no CREA. Infelizmente muitos dos nossos colegas não respeitam a ética profissional e insistem em ganhar a tal RT (reserva técnica) que nada mais é, no conceito geral, que uma espécie de propina para especificar materiais que as lojas destinam aos arquitetos. Uma vergonha!!!! E aí cobram seus honorários abaixo do que deveriam.

 3. Qual a experiência profissional mais marcante?

Sem dúvida alguma foi ser professor. É fantástica a relação que se tem com os acadêmicos. Necessitamos estudar cada dia mais, conhecer mais e melhor nossa profissão e tudo que se relaciona com ela, principalmente as questões sociais.

Essa relação professor/acadêmico é riquíssima sob o ponto de vista profissional e pessoal, porque se forma uma dialética na qual ambos ensinam e aprendem muito. Poder transmitir conhecimento, receber conhecimento e retornar com esse novo conhecimento é fantástico!!!!

É necessária muita leitura e horas de dedicação. E desta forma o retorno é incrivelmente prazeroso.

 4. Obras mais significativas?

Sem dúvida alguma a última… Uma residência. Cada dia aprendo um pouco e a impressão que tenho é que todo esse aprendizado começa agora, e só agora a se espelhar, a se materializar em algo com alguma qualidade… Alguma… Só alguma, porque tenho ainda muito a aprender.

 5. Quais são suas expectativas para o arquiteto dentro do cenário cuiabano?

As melhores possíveis… Cuiabá, na realidade Mato Grosso, está passando por um momento ímpar na sua história… Uma retomada do processo de desenvolvimento que ocorreu na década de 70. As expectativas são as melhores possíveis para as questões profissionais dos arquitetos, porque também o é nas questões gerais da sociedade.

 6. Quais as implicações urbanistas da implantação da copa?

Nosso município vem passando, infelizmente já algum tempo, por gestões medíocres no que diz respeito à gestão urbana. Na realidade isso só reflete as questões política que vivemos em nosso País e essa enxurrada de corrupção que vemos. Cuiabá não ficou fora desse cenário, muito pelo contrário. Vemos, lemos e ouvimos quase que diariamente uma avalanche de denúncias aqui em Mato Grosso.

Tudo isso, aliada as questões da falta de um ensino fundamental e médio de qualidade, proporcionou que políticos pouco comprometidos com as questões urbanas assumissem cargos de gestão. E dessa forma Cuiabá virou isso que está aí. Uma cidade de muitas leis e pouca gestão… Ou quase nenhuma.

Creio que os recursos destinados e alocados para a Copa, devem trazer um pouco mais de qualidade a nosso espaço urbano.

 7. O que é para você um bom design arquitetônico.

Bom… Gosto de pensar em Vitruvius…  A tríade vitruviana foi apresentada como os três elementos fundamentais da arquitetura:

a)   Firmitas, que se refere à estabilidade, ao carácter construtivo;

b)   Utilitas, que se refere à função ou ser utilitário;

c)   Venustas, que se refere a beleza e à apreciação estética.

Sendo assim, para mim um objeto passa a ter qualidade arquitetônica ou escultórica, não importa, quando atende a tríade vitruviana. É claro que o “belo” é um dos elementos mais polémicos que conheço…

 8. Que época histórica da arquitetura mais te fascina?

O renascimento… O iluminismo

O Renascimento é o período que foi marcado por transformações em muitas áreas da vida humana. O humanismo pode ser apontado como o principal valor do Renascimento

O Iluminismo é um dos mais importantes e prolíficos períodos da história intelectual e cultura da humanidade.

Immanuel Kant, expoente do pensamento iluminista, descreveu O que é o Iluminismo?

O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! – esse é o lema do Iluminismo“.

 9. Que arquitetos você admira: históricos e contemporâneos?

Bom… Dos brasileiros eu gosto:

Do passado: Villanova Artigas; Lina Bo Bardi; Ícaro de Castro Mello, Lúcio Costa e Burle Marx.
Do presente: Oscar Niemeyer, Lelé, Ruy Ohtake, Paulo Mendes da Rocha e Sylvio de Podestá

Dos estrangeiros;

No passado, particularmente gosto de Vitrúvio, pelo único tratado escrito no período grego-romano e que ainda serve de inspiração a diversos textos sobre arquitetura;
Leonardo Da Vinci, o mais importante do renascimento.

Mais recentemente: Le Corbisier, o grande nome do movimento moderno, Frank Lloyd Wright e Mies van der Rohe,

Hoje em dia gosto muito de:

Santiago Calatrava, Norman Foster, Renzo Piano ( vale a pena ver Centro Cultural Jean Marie Tjibaou em Nouméa) e Richard Meier.

 10. Que novos materiais geram maior interesse pra você?

Particularmente… Todos os materiais geram meu interesse porque a arquitetura é um reflexo da cultura e do lugar… Vivemos em um mundo em grandes mudanças e transformações. Desta forma, necessitamos estar “antenados” com tudo que nos cerca, mas sempre procurando separar o joio do trigo. O que não é nada fácil…

 11. Os faraós construíam pirâmides e os banqueiros, arranha-céus. Será a arquitetura sempre um símbolo de poder?

Quem disso isso? É um absurdo!!!! Arquitetura espelha a sociedade, simboliza o homem, o espaço que ele vive com dignidade, alegria e esperança.

Ela, a arquitetura, pode ser utilizada como um símbolo de poder, assim com um símbolo de humildade… Vai depender de quem e como a usa. Na realidade ela espelha a cultura e a realidade social do momento.

 12. Que lema você gostaria de ver escrito na entrada da faculdade de arquitetura?

Escrevi algo que gosto muito, depois de ter como base uma frase do meu filho Bernardo. Fiz uma releitura daquilo que ele escreveu e consegui passar para o papel o que sinto sobre arquitetura:

“Arquitetura é poesia edificada, e só é entendida e compreendida pelo ser humano que vislumbra a beleza por trás de toda natureza que percorre seu olhar. O olhar sobre a paisagem, as edificações, o ser humano, a bondade, a verdade e a vida”. (Eduardo Chiletto).

Não sei se é um lema… Mas é o que eu sinto.

 13. Que páginas de arquitetura na Internet você freqüenta?

Na realidade, apesar de navegar um pouco, não freqüento nenhuma página especial sobre arquitetura. Nada substitui um bom livro… Até que agora já estão digitalizando vários. Na internet eu gosto de navegar dando uma geral no que está ocorrendo no mundo sobre as questões ligadas a arquitetura. Mas se for para dar uma ótima referência, particularmente gosto muito de Vitruvius: www.vitruvius.com.br

Tem ótimos artigos sobre arquitetura.

14. Na sua visão qual a obra mais significativa em MT?

Sem sombra de dúvidas o CPA e todo o conjunto que o envolve. Quando eu digo CPA estou falando do Centro Político Administrativo do Estado de Mato Grosso e também do conjunto, englobando o conjunto do bairro CPA e Morada do Ouro. Foi estratégica a mudança para lá… Um trabalho de urbanismo muito bem feito. E ainda tem a qualidade da arquitetura do Palácio Paiaguás que é muito boa. O conceito utilizado é de tirar o chapéu e pouquíssimas pessoas conhecem. Vale a pena chamar nosso ex-diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UNIC e amigo Júlio De Lamônica e o prof. Manuel Perez para falar sobre o assunto. Eles trabalharam e foram os arquitetos da concepção do CPA.

Temos também a rodoviária. Uma obra fantástica do arquiteto Paulo Mendes da Rocha… Deveria ser tombada pelo IPHAN ou pela Secretaria de Cultura.

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About Eduardo Cairo Chiletto

Arquiteto e Urbanista - Presidente da Academia de Arquitetura e Urbanismo-MT. Coordenador Nacional de Projetos da PAGE - Brasil (2018 - 2023). Secretário de Estado de Cidades-MT (2015-2016)... Conselheiro e Vice-presidente do CAU/MT - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (2015-2017)
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