Desenvolvimento Sustentável x Crescimento Econômico

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e sugerir meios de proporcionar o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental recomendou uma definição de certa forma aceita pela sociedade para desenvolvimento sustentável, mas que pouco conceitua efetivamente o que venha a ser: “É o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”.

A pergunta que se pode fazer é: Como utilizar do atual modelo de desenvolvimento sem esgotar os recursos futuros? Como os países que ainda não atingiram o grau de desenvolvimento desejado, que possuem grande parte da sua população em condições de miséria poderão alcançar condições de vida digna sem comprometer o meio ambiente com esse modelo econômico que aí está exposto e sendo largamente utilizado?

A resposta me parece de certa forma clara, o desenvolvimento econômico é crucial para os países mais pobres, mas o caminho a se seguir não pode ser o mesmo adotado pelos países industrializados do norte, pois esse modelo seguido por eles aumentaria a quantidade de combustíveis fóssil consumida em cerca de 10 vezes e a de recursos minerais em 200 vezes, segundo a WWF – World Wildlife Fund.

Tal fato nos remete ao termo PLANEJAMENTO em longo prazo, tão pouco utilizado pelos governos que só se preocupam, na grande maioria, com sua gestão de quatro anos e costumam confundir desenvolvimento com crescimento econômico. Este último freqüentemente insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais, utilizando da quantidade ao invés da qualidade. Ainda segundo a WWF “… Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção de madeira mundial”.

Mas como conscientizar os governos do norte a mudarem para uma política de consumo menor e ao mesmo tempo conscientizar os do sul a mudarem seus hábitos de vida e consumo que tem como perspectiva almejar o modelo do norte?

Talvez a resposta esteja na educação. Nas salas de aula do ensino fundamental e médio. Nas graduações, dissertações e teses das pós-graduações das universidades públicas e privadas. Na conscientização, no envolvimento da população, na labuta individual de cada um, na articulação de grupos de pessoas em movimentos de cidadania. Ainda poderá estar nos modelos utilizados pelos povos indígenas, nas comunidades ribeirinhas, assim como outras comunidades locais, que costumam desempenhar um papel fundamental na ordenação do meio ambiente e no desenvolvimento devido a seus conhecimentos e práticas tradicionais em respeito ao que é local, social e cultural.

A Agenda 21 é bem clara sobre isso: “… Os Estados deveriam reconhecer e prestar o apoio devido a sua identidade, cultura e interesses e velar pelos que participarão efetivamente na obtenção do desenvolvimento sustentável…”, mas se não o fazem por interesses escusos, pelo poder, ou mesmo por total ignorância cultural dos que ali se encontram, que nossa força individual e coletiva o faça. Os governantes só estão em seus cargos públicos porque nós os elegemos por meio do voto direto. É somente através da educação que poderemos mudar o “statu quo res erant ante bellum” (estado em que as coisas estavam antes da guerra). A revolução sócio-cultural necessária, a mudança de hábitos, o respeito pelo meio ambiente de forma coletiva e sustentável, a conscientização da transformação das atuais formas de crescimento econômico deve ser por meio da educação.

A educação ambiental, tendo como norteador a preservação consciente da natureza e de hábitos saudáveis de utilização dos recursos naturais, deve ser praticada por cada um de nós em nosso cotidiano, que por sua vez o será pela sociedade. O embrião da sociedade é a família. Como educador que somos, ao fazer nossa parte em casa, no trabalho, na escola, nas universidades, mobilizando as pessoas que nos são próximas, estaremos sendo atores principais de uma grande e importantíssima transformação. Uma transformação que deverá levar nosso crescimento econômico para níveis de desenvolvimento sustentável social e cultural.

A sustentabilidade pela perspectiva sócio-cultural esta entre outras, relacionada com o direito de todos possuírem habitação digna, emprego, transporte, água potável, rede de esgoto, serviço médico de qualidade, segurança e educação. Há necessidade de transformações e mudanças necessárias no planejamento de nossas cidades, sem comprometer o meio ambiente e as referências e valores culturais, morais e éticos. Estes não estão ligados ou relacionados com os rendimentos ou a riqueza da sociedade, mas e, sobretudo, o direito de todos de usar os recursos naturais da terra, com a obrigação de proteger a integridade desses recursos sob pena de perdermos nosso habitat.

Como disse nosso poeta maior Manoel de Barros “A sabedoria não está nos livros, mas na natureza”.

Avatar de Desconhecido

About Eduardo Cairo Chiletto

Arquiteto e Urbanista - Presidente da Academia de Arquitetura e Urbanismo-MT. Coordenador Nacional de Projetos da PAGE - Brasil (2018 - 2023). Secretário de Estado de Cidades-MT (2015-2016)... Conselheiro e Vice-presidente do CAU/MT - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (2015-2017)
Esta entrada foi publicada em Uncategorized. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário