O ciclo de vida como gestão, permite avaliar o impacto ambiental potencial associado a uma atividade ou produto durante o seu ciclo de vida, permitindo identificar quais estágios tem contribuições mais significativas, incluindo a extração e aquisição das matérias primas, a fabricação do produto, sua embalagem, transporte e distribuição, seu uso, e seu descarte no final de sua vida útil. Por este motivo, a ACV (análise do ciclo de vida) é conhecida como uma abordagem do “berço ao túmulo” para o estudo dos impactos ambientais (PNUMA, 2011)[1].
Esses estudos tiveram início na década de 60 e quem mais contribuiu para a padronização da metodologia de ACV foi a SETAC – Society of Environmental Toxicology and Chemistry que reuniu pesquisadores para discutir o tema em nove conferências internacionais entre os anos de 1990 e 1993, resultando na publicação da SETAC Guidelines for Life Cycle Assessment – a Code of Practice (CONSOLI et AL., 1993). E que mais tarde orientou os trabalhos de normatização da ISO – International Organization for Standardization, que geraram a série de normas ISO 14040 relativas à ACV.
A norma NBR ISO 14040 foi internalizada no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que em função das novas edições de 2006 das normas ISO 14040 e ISO 14044, a norma NBR ISO 14040 está sendo revisada pela ABNT/CB-38.
A análise abrange todo o ciclo de vida de um produto/processo/atividade aborda:
- a extração da matéria prima;
- o processamento da matéria-prima;
- a produção;
- a distribuição;
- o uso;
- o reuso (quando necessário);
- a manutenção;
- a reciclagem;
- a eliminação (disposição final).
A metodologia de avaliação da ACV inclui aspectos ambientais e os impactos associados ao ciclo de vida desde a extração dos recursos naturais atá o uso e disposição final do produto, categorizando o uso de recursos naturais, implicações sobre a saúde humana e a ecologia (Quadro 2).
Quadro 2 – Fases de um estudo de ACV[2]
Podemos observar que o estudo é interativo e informações obtidas na última fase podem afetar as fases anteriores. Desta forma, nos estudos é comum o trabalho das várias fases paralelamente e de forma integrada.
Segundo Coltro (2007) exitem ainda quatro elementos fundamentais para se entender o conceito de ACV conforme abaixo:
- Unidade Funcional;
- Fronteiras do Sistema;
- Alocação;
- Qualidade dos dados e Coleta de dados.
A unidade funcional é a especificação das diversas funções possíveis do sistema estudado (ISO 14040). É definida como o desempenho quantificado de um sistema de produto e ter por objetivo servir de unidade de referência.
A fronteira de sistema define os processos elementares que serão estudados e possuem dimensões: Fronteira entre o sistema técnico e o meio ambiente; Geográfica; Temporais; Fronteiras relacionadas com a produção relativas as atividades que constam do CVP (ciclo de vida do produto); Relacionadas ao ciclo de vida de outros produtos, ou seja, quando o processo gera outros produtos, sendo que a carga ambiental deve ser distribuída.
As situações de alocação ocorrem quando o ciclo de vida de produtos diferentes são interligados e a norma ISO 14041 recomenda que a fronteira do sistema seja expandida de modo que os co-produtos sejam incluídos.
Na qualidade dos dados e coletas dos dados é importantíssimo que os mesmos atendam o objetivo do estudo, afim de aumentarem a confiabilidade dos resultados e conclusões. Von Bahr e Steen (2004) apud Coltro (2007) sugerem três critérios para avaliar a qualidade dos dados: relevância, confiabilidade e acessibilidade.
Como resposta ao impacto sobre o ecosistema global, a eficiência econômica das empresas dependem cada vez mais do atendimento da demanda do desenvolvimento em buscar produtos e processos sustentáveis. Na construção civil surge o conceito de construção sustentável através de princípios estabelecidos pela Agenda 21 (Barata, 2008).
Uma reflexão sobre a construção civil marcada até então basicamente pela degradação do meio ambiente e do ecossistema e sobre processos sustentáveis, nos remete a uma reflexão sobre a forma de pensar e agir, o que envolve necessariamente uma mudança de atitude e uma articulação com a educação ambiental.
Educação ambiental como forma de transformação social
Segundo Jacobi (2002) em Tsibilisi (EUA), em 1977, a partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, dá-se início a um processo em nível global de criação de condições para “reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos da interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade” para se formar consciência sobre o valor da natureza.
A partir dos anos de 1970 ocorreram além de Tbilisi outros quatro grandes eventos internacionais sobre Educação Ambiental, o II Congresso Internacional sobre Educação e Formação Ambientais (Moscou em 1987), o Fórum das Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais – evento paralelo à Eco-92 (Rio de Janeiro em 1992), III Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade (Tessalonica em 1997) e o IV Conferência Internacional de Educação Ambiental (Ahmedabad em 2007).
Segundo Novicki (2009)[3],
“… Um objetivo fundamental da educação ambiental é lograr que os indivíduos e a coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integração de seus aspectos biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as habilidades práticas para participar responsável e eficazmente da prevenção e solução dos problemas ambientais, e da gestão da questão da qualidade do meio ambiente”.
A educação provoca mudanças de atitudes e considera a influência dos valores sociais sobre os hábitos de cada um, permitindo colocar em xeque essa sociedade que lucra com a miséria humana e causa o esgotamento e poluição ao meio ambiente. De forma dialética indivíduo/sociedade questiona as origens da degradação ambiental e da desigualdade social, discutindo além de soluções técnicas/econômicas, as relações sociais visando à construção de uma sociedade mais sustentável.
Ainda segundo Novicki (2009),
“… As causas primárias de problemas como o aumento da pobreza, da degradação humana e ambiental e da violência podem ser identificadas no modelo de civilização dominante, que se baseia em superprodução e superconsumo para uns e em subconsumo e falta de condições para produzir por parte da grande maioria”.
A educação ambiental dentro da ótica de sociedade sustentável garante mudanças sociopolíticas que não comprometem os sistemas ecológicos e sociais que sustentam as comunidades. Entretanto, é necessário ficar claro que uma definição de “Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis”, é muito diferente de uma educação conservacionista, comportamentalista-individualista ou “para o desenvolvimento sustentável”.
A educação ambiental deve ser vista como um processo que forma cidadãos com consciência local e global. E como se relaciona educação ambiental com a cidadania?
Cidadania é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito e tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como formação e exercício de cidadania, segundo Jacobi (2002), “… refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens”.
Como destaca Meira e Sato (2005) apud Novicki (2009), “… somente peixe morto nada conforme a correnteza do desenvolvimento sustentável; os ainda “vivos” lutam no espaço público pela construção de sociedades sustentáveis”.
[1] Fonte: http://www.brasilpnuma.org.br/saibamais/iso14000.html Acesso em 26/03/2011.
[2] Fonte: NBR ISO 14040
[3] Fonte: http://www.red.unb.br/index.php/linhascriticas/article/viewFile/1490/1117 Acesso em: 26/03/11
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISSO 14040: gestão ambiental: avaliação do ciclo de vida – princípios e estrutura. Rio de Janeiro, 2001. 10p.
BARATA, T.Q.F. Proposta de painéis leves de madeira para vedação externa adequados ao zoneamento bioclimático brasileiro. Tese de doutorado. Campinas, SP. 2008
BELLEN, H.M. van. Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005. 256 p.
CONSOLI, F. et al. Guidelines for life-cycle assessment: a code of practive. Pensacola: SETAC, 1993. 73p. Apud _______ . Avaliação do ciclo de vida como instrumento de gestão / Leda Coltro (Org.). Campinas: CETEA/ITAL, 2007
IUCN; UNEP; WWF. The World Conservation Strategy: Living Resource Conservation for Sustainable Development. International Union for Conservation of Nature (IUCN), United Nations Environment Programme (UNEP) and World Wide Fund for Nature (WWF), Gland, Switzerland, 1980.
JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa. Cadernos de Pesquisa. São Paulo: Autores Associados, n. 118, 2003.
LEDA Coltro (Org.). Avaliação do ciclo de vida como instrumento de gestão /. Campinas: CETEA/ITAL, 2007
MEIRA, P.; SATO, M. Só os peixes mortos não conseguem nadar contra a correnteza.
Revista de Educação Pública, Cuiabá, v. 14, n. 25, p. 17-31, 2005.
NOVICK, V. Educação para o Desenvolvimento Sustentável ou Sociedades Sustentáveis?. Revista Semestral da faculdade de Educação da UNB. Linhas Críticas, Brasília, v. 14, n. 27 p. 215-232, jul./dez. 2009. ISSN 1981-0431
SACHS, W. (org.). (2002), “Justiça num mundo frágil: memorando para a cúpula mundial sobre desenvolvimento sustentável”. World Summit Papers, Rio de Janeiro, Fundação Heinrich-Böll.
SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2002
VEIGA, José Ely da, Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI / Rio de Janeiro: Garamond, 2008 3º ed.
VON BAHR, B., STEEN, B. Reducing epistemological uncertainty in life cycle inventory. J. Cleaner Prod., v. 12, n. 4, p. 369-388, 2004. Apud _______ . Avaliação do ciclo de vida como instrumento de gestão / Leda Coltro (Org.). Campinas: CETEA/ITAL, 2007.
