Na Conferência Climática das Nações Unidas (COP25) na Espanha se discute uma ação política imediata aos governos nacionais para impor práticas responsáveis de planejamento sustentável, melhoria do bem-estar humano e igualdade social, assim como a redução significativa dos riscos ambientais e dos desequilíbrios ecológicos.
Em meio as discussões na COP25, e as novas cidades sustentáveis inteligentes + verdes sendo projetadas por arquitetos e urbanistas em países no mundo com o uso de TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação, assim como de AI – Inteligência Artificial, me veio a mente o contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta do modernismo brasileiro do século XX, Carlos Drummond de Andrade, ao citar as Favelas em 1979 e que ainda existem em grande número em nossa cidades.
“São 200, são 300 as favelas cariocas? O tempo gasto em contá-las é tempo de outras surgirem… Onde haja terreno vago onde ainda não se ergueu um caixotão de cimento esguio (mas se vai erguer) surgem trapos e panelas, surge fumaça de lenha em jantar improvisado… Que fazer com tanta gente brotando do chão, formigas de um formigueiro infinito? Ensinar-lhes paciência, conformidade, renúncia? Cadastrá-los e fichá-los para fins eleitorais? Prometer-lhes a sonhada, mirífica, rósea fortuna distribuição (oh!) de renda? Deixar tudo como está para ver como é que fica? Em seminários, simpósios, comissões, congressos, cúpulas de alta prosopopeia, elaborar a perfeita e divina decisão?…”
O imortal Arquiteto Julio De Lamônica Freire em um trecho do discurso de formatura para a primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da UNIC nos disse:
“…Em um mundo conturbado e inquieto, em que as fronteiras estão sendo rompidas, mas o convívio e o compartilhamento não estão sendo construídos, o que resulta em novas formas de violência, segregação e exclusão, o lugar assume importância cada vez maior, na medida em que se constitui na possibilidade de mudança, de ruptura.
Por isso mesmo, o espaço permanece como baliza e referência de conhecimento e como valor, colocando-se como uma das questões cruciais desse novo milênio, com a constituição de blocos para além de estados como o da União Europeia, ao lado do acirramento de conflitos por Estado como o que vivenciam Palestinos e Judeus…
Como profissional que tem o espaço como objeto de trabalho, qual o papel do arquiteto nesse novo horizonte de humanidade…?
Para que possamos encontrar respostas para essa questão, é importante lembrarmos que todos nós, da espécie humana, somos seres datados e situados. Desde o nosso nascimento, nós somos seres em relação e para construir relações significativas. Nós tomamos como principal referência o espaço e o tempo. Nosso corpo e nossa mente se desenvolvem numa relação de interação com o espaço e o tempo.
Ao entender que o nosso corpo é espaço expressivo e expressão de todos os espaços, Merleau-Ponty[1] nos ensinou que o homem mora no espaço e no tempo. Isto quer dizer que não estamos dentro do espaço e do tempo e sim que nós os habitamos…”
Acredito ser esta a maior lição a ser dada aos representantes da UIA – União Internacional de Arquitetos que pede para a COP25 “uma ação política imediata para impor práticas responsáveis de construção e arquitetura sustentável e design urbano”, assim como também o é aos Conselheiros do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, sobre nossa morada… O mundo em que vivemos, pois com disse Le-Corbusier:
“… A morada é um continente que responde a certas condições e estabelece relações úteis entre o meio cósmico e os fenômenos biológicos humanos. Um homem (ou uma família) nela dormindo, andando, ouvindo, vendo e pensando… Para seus pulmões uma determinada quantidade de ar. Para seus ouvidos, um quantum suficiente de silêncio. Para seus olhos uma luz favorável…”
Que as TIC`s – Tecnologias de informação e comunicação estão ao alcance dos profissionais e gestores públicos todos nós sabemos, entretanto elas devem ser utilizadas em prol de construirmos juntos esta nossa morada chamada Terra, em e com relações significativas, pois somos seres datados e situados no espaço e no tempo.
[1] Maurice Merleau-Ponty foi um filósofo fenomenólogo francês.



Meu irmão Júlio estava além do seu tempo. Era um ser datado nesse espaço e nesse tempo. Belíssimo texto, Edu! Parabéns!
Muito obrigado Ermê.
Realmente Julinho era um ser iluminado. Está fazendo muita falta nesses tempos sombrios de falta de ética e comprometimento do poder público.
Sua voz e seus conselhos nos orientava.