Arquitetura e Urbanismo pós Covid-19: Mudanças climáticas, crescimento e emprego

A recuperação pós Covid-19 nos impulsiona para um modelo completamente diferente dos atuais padrões de planejamento urbano e rural e nos conduz para um novo padrão de crescimento com foco nas pessoas e na sustentabilidade, sem comprometer o meio ambiente.

O atual modelo linear de Arquitetura e Urbanismo baseado na construção civil em “projetar, construir, usar e descartar” é um desperdício extrativo, além de ser amplamente responsável pela mudança climática e pelo esgotamento de recursos naturais. Os Arquitetos e Urbanistas não devem mais projetar e/ou planejar e usar a abordagem usual para a infraestrutura. Ela está levando à destruição ecológica e às emissões massivas de dióxido de carbono na atmosfera.

Neste sentido se quisermos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os compromissos de emissão de gases de efeito estufa (GEE) e do Acordo de Paris, devemos adotar um novo modelo de planejamento e como consequência de Arquitetura e Urbanismo para as nossas cidades, assim como para os assentamentos rurais.

Por exemplo, os planos diretores, sempre voltados para a área urbana, com pouquíssimas exceções a regra, devem ser implementados também na área rural como Planos Diretores Participativos de Desenvolvimento Municipal. E no meu entender, devem estar baseados na contribuição de transformações equitativas e sustentáveis das estruturas com a finalidade de alcançar a sustentabilidade ambiental, a criação de empregos decentes, a redução da pobreza e a melhoria do bem-estar humano, assim como oportunizar novos caminhos, melhorando a vida das pessoas através da implementação dos 17 (dezessete) ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Nova Agenda Urbana da ONU, com ações para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar para todos, proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas.

Uma abordagem de planejamento territorial deve permitir estimular o crescimento econômico e gerar empregos sem comprometer o meio ambiente, posicionando-se como uma pedra angular para uma recuperação econômica resiliente e de baixo carbono, após a pandemia da COVID-19.

A nova prática da Arquitetura e Urbanismo deve oferecer uma estrutura de soluções sistêmicas para o desenvolvimento econômico, ambiental e social, abordando profundamente a causa dos desafios globais, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade, aumento de resíduos e poluição, ao mesmo tempo em que deve revelar grandes oportunidades de crescimento, devendo ser impulsionada pelo design e pelo uso de energia e materiais renováveis.

É o que diz inclusive um novo relatório do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Ele instiga os Arquitetos e Urbanistas, os planejadores e formuladores de políticas a adotar uma abordagem mais sistemática para a infraestrutura sustentável, incorporando-a em seus planos de desenvolvimento de longo prazo e garantindo a sinergia dos sistemas antrópicos com os naturais.

Desta forma, esse novo modelo de projeto que hoje se estabelece aos arquitetos e urbanistas, e planejadores, assim como a humanidade, deve ser baseado em cinco princípios: planejar com foco na sustentabilidade; eliminar o desperdício e a poluição; manter produtos e materiais em uso; regenerar sistemas naturais com os materiais retornando à natureza com segurança para os ecossistemas naturais, assim com o desenvolvimento de infraestrutura sustentável que será vital para combater as mudanças climáticas, melhorar os serviços públicos e impulsionar a recuperação econômica pós COVID-19.

A aplicação desse novo modelo pelos arquitetos e urbanistas trará um impacto direto na luta contra as alterações climáticas assim como na prevenção de resíduos. Por exemplo, mudar a forma como produzimos e usamos aço, cimento e alumínio poderia reduzir as emissões de GEE dessas indústrias em até 40% até 2050, segundo dados da UNIDO – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, sobre economia circular.

Esse relatório ainda nos mostra que o uso de aço reciclado ou reutilizado para construção civil poderia gerar economias de até 25% nos custos de materiais por tonelada de aço. A infraestrutura construída, que inclui tudo, desde prédios de escritórios a rodovias e usinas de energia, é responsável por 70 por cento de todas as emissões de gases de efeito estufa, menciona no relatório do PNUMA em “Princípios de Boas Práticas Internacionais para Infraestrutura Sustentável”.

Da mesma forma, o relatório descreve que “a aplicação dos princípios da circularidade ao setor da construção pode significar uma redução de materiais (e custos) através do uso da produção modular e da impressão 3D, a otimização do uso de energia e a reutilização ou reciclagem de materiais de alto valor na fase de demolição”.

Um bom exemplo está em Singapura, que pretende ter 80% de seus edifícios certificados como verdes até 2030. Os construtores usaram materiais reciclados para construir desde escolas a escritórios corporativos. Segundo o PNUMA, o país foi o primeiro a revelar um edifício construído inteiramente com agregado de concreto reciclado e resíduos de demolição.

Atualmente a China e outros países Asiáticos se destacam na transição para uma arquitetura e urbanismo sustentável, construindo cidades inteiras focadas nas TIC – tecnologias de informação e comunicação, sustentabilidade e na AI – inteligência artificial. Por outro lado, por meio de esquemas de cooperação internacional e diálogo político, os arquitetos e urbanistas podem se beneficiar do intercâmbio de conhecimentos e melhores práticas, transferência de tecnologia e apoio dos países pioneiros através da UIA – União Internacional de Arquitetos, reconhecida como a única organização mundial de arquitetura pelas agências das Nações Unidas, incluindo a UNESCO, a UN–Habitat, o ECOSOC, a UNIDO, a OMS e a OMC.

Temos ciência que o nível de desenvolvimento de um país afeta a forma de entender e lidar com a Arquitetura e Urbanismo, pois é fundamental estimular um olhar atento à realidade onde se vive, uma vez que para transformá-la é essencial conhecer os diferentes aspectos relacionados ao espaço urbano e rural, e territorial. Portanto, para os arquitetos e urbanistas, planejarem, projetarem e construírem se apresenta um conjunto específico de desafios e oportunidades, como por exemplo o acesso ao desenvolvimento tecnológico e a capacidade institucional e financeira.

Onde podemos concluir ser inevitáveis a transição para uma nova arquitetura e urbanismo que se evidencia pelos desafios significativos a que responda para uma recuperação pós COVID-19, mas também pelos potenciais benefícios econômicos, ambientais e sociais que promete gerar com a mudança para modelos de planejamento, projeto e construção mais sustentável.

Uma transição bem-sucedida requer medidas específicas ao contexto, um forte compromisso dos Arquitetos e Urbanistas com os setores políticos e público e a participação ativa do setor privado e da sociedade civil em todo o processo de planejamento.

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About Eduardo Cairo Chiletto

Arquiteto e Urbanista - Presidente da Academia de Arquitetura e Urbanismo-MT. Coordenador Nacional de Projetos da PAGE - Brasil (2018 - 2023). Secretário de Estado de Cidades-MT (2015-2016)... Conselheiro e Vice-presidente do CAU/MT - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (2015-2017)
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