
Belongings of the homeless crowd a downtown Los Angeles sidewalk in Skid Row on May 30, 2019. – The city of Los Angeles on May 29 agreed to allow homeless people on Skid Row to keep their property and not have it seized, providing the items are not bulky or hazardous. (Photo by Frederic J. BROWN / AFP) (Photo credit should read FREDERIC J. BROWN/AFP via Getty Images)
A pandemia é inequivocamente desigual nos seus impactos sociais. Basta observamos os resultados educacionais em que a população de baixa renda não tem acesso a internet de qualidade, nem na infraestrutura quanto na conectividade – pobreza digital – e consequentemente a um ensino/aprendizagem que garanta conhecimento e qualidade a distância.
O fechamento de escolas e creches combinado com a pobreza digital são inequivocamente trágicos. Riscos e repercussões são abundantes ao atraso no desenvolvimento de habilidades motoras, da saúde mental e depressão, à reversão da paridade de gênero. Todos esses obstáculos podem levar a atrasos cognitivos e desenvolvimento social e emocional.
Além disso, os mais pobres são muito mais vulneráveis aos choques econômicos e de saúde na pandemia. E quando focamos nas crianças a preocupação aumenta, pois, os primeiros anos de uma criança são essenciais para determinar os resultados na vida adulta. A adição de aprendizagem formal torna-se vital no final da infância e adolescência para determinar os resultados da vida na fase adulta.
Ainda existe para os despossuídos condições de vida limitadas, violência doméstica, redução de alimentos – aportes nutricionais – comprometimento do bem-estar físico e mental. Interação social e comunitária restrita são outros fatores que culminam na exclusão social.
Cada dia que passa, a pandemia do Covid19 que aqui chamo de “pandemia da desigualdade” prejudica ainda mais as chances da melhoria da qualidade de vida dos mais jovens e principalmente da população de baixa renda – os pobres e despossuídos – e, consequentemente, compromete as perspectivas de um crescimento inclusivo e sustentado de desenvolvimento social, econômico e ambiental.
Se faz extremamente necessária e urgente uma ação política forte e robusta baseadas em dois elementos principais: (i) programas e infraestrutura diretamente relacionados a educação, ao saneamento básico e ambiental, incluindo inclusive programas de transferência de dinheiro; e (ii) é imprescindível desenvolver ações de sensibilização/mobilização/capacitação social que possibilitem a compreensão sistêmica que a questão exige, estimulando a participação popular, com o intuito de conscientizá-la e comprometê-la com o enfrentamento dessa questão.
Importante salientar que o município de Cuiabá está revendo seu Plano Diretor. O Plano Diretor é o mecanismo legal que expressa o projeto do município que queremos. E suas diretrizes de ações visam promover o desenvolvimento sustentável, a melhoria da qualidade de vida da população e o bem-estar de toda a comunidade. Ele se transforma em lei máxima de um município.
A pergunta que não quer se calar é: existem diretrizes nele contidas para a recuperação social, econômica e ambiental pós pandemia do Covid-19, que incluem a melhoria da qualidade de vida da população e o bem-estar de toda a comunidade?
A pandemia é um dos mais graves desafios que Mato Grosso já enfrentou, com custo elevadíssimo em termos de vidas humanas. Com esse alto custo e a profunda crise da saúde, Mato Grosso irá testemunhar um impacto severo no bem-estar de grande parte da população, principalmente de baixa renda, ao longo dos anos que virão.
A crise gerada pela pandemia interage com a heterogeneidade na capacidade de geração de renda, condições de trabalho, acesso a serviços públicos e muitos outros aspectos que tornam alguns indivíduos e famílias particularmente vulneráveis. Dentre eles podemos destacar: pessoas nos mercados informais, pequenos e microempresários, mulheres em condições precárias de trabalho, grupos historicamente excluídos, como indígenas e negros.
Estes citados deveriam estar no centro da resposta política, mas até o momento não estão…
O que vemos na mídia são notícias sobre “Corrida Eleitoral” onde citam nomes de possíveis candidatos de vários partidos, mas esses candidatos não apresentam propostas factíveis ou não para solucionar a “invisibilidade dos despossuídos” neste momento tão crucial de pandemia. São verdadeiros políticos alienados das questões sociais, econômicas e ambientais que envolvem a questão. Qual o projeto político deles para pós pandemia?
O ex-governador dos EUA, Ben Bernanke, nos lembra em seu livro “The Courage to Act” que durante as crises, as pessoas são distinguidas por aqueles que agem e aqueles que temem agir. O que percebo é que grande parte dos nossos políticos temem em agir. Se alguma vez houve um momento sem precedentes para agir, é indiscutível, que este momento é agora.
O desafio lançado para aqueles que possuem capital político e financeiro é este: em vez de preparar o terreno para um cemitério em massa, construa as bases e invista em infraestrutura social, de saneamento básico e ambiental. Invista na educação em todos os seus dois níveis: a educação básica – formada por três etapas – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, e no segundo nível, na educação superior.
Por meio da educação é possível formar cidadãos conscientes, críticos e capacitados para viver em sociedade. Quando se investe em educação, se tem uma população preparada para encarar os desafios cotidianos em todas as áreas, inclusive em pandemias.
Como Arquiteto e Urbanista tenho que salientar que o processo de planejamento e sua transformação acontecem no momento em que a sociedade, ao olhar de forma crítica para os aspectos que influenciam sua qualidade de vida, reflete sobre os fatores sociais, políticos, econômicos e ambientais que originaram a situação atual e, ao corrigir o caminho, busque modificá-los de forma a melhorar a qualidade de vida da população, principalmente daqueles que são “despossuídos” e não tem voz.
Importante salientar que o próximo ano é um ano eleitoral e precisamos votar naqueles que se distinguem dos politiqueiros que só trabalham em causa própria e, desta forma, a favor da necrópole do Covid19, por aqueles que efetivamente agem em prol da sociedade democratizando as decisões para transformar o planejamento da ação em trabalho compartilhado entre os cidadãos para uma recuperação social, econômica e ambiental pós pandemia.