
Importante ressaltar historicamente que, o que estamos vivendo hoje, nessa transformação climática, não se deu em anos, nem em décadas, mas em centenas de anos e iniciou na Revolução Industrial. Foi um importante período para a humanidade e de grande desenvolvimento tecnológico que teve início na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII e que se espalhou pelo mundo.
Entretanto causou grandes transformações, inclusive a produção intensa dos gases do efeito estufa, pela transição para novos processos de fabricação na Grã-Bretanha, Europa continental e Estados Unidos.
Inclusive os gases emitidos pela indústria na Revolução Industrial e pós revolução industrial acarretou consequências ambientais variadas, como a abertura de buracos na camada de ozônio, a extinção de biomas, o derretimento de geleiras, a poluição de recursos hídricos e do solo, as mudanças climáticas, entre outros tantos.
Sendo assim, a reversão, se o mundo todo se transformar hoje através de um processo de educação em desenvolvimento sustentável, implementando inclusive os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS e a Agenda 2030 da ONU, só será percebida em décadas ou em séculos, pois este é o tempo que ocorre naturalmente as mudanças em nosso planeta.
Dados do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – mostram que a mudança na temperatura da superfície global pode atingir 4 graus célsius até o final do século XXI se nenhuma medida for tomada colocando de 20% a 30% das espécies em risco de extinção.
O documentário “A Vida no Nosso Planeta”, aponta alguns indicadores importantes relacionados onde a Terra suportou cinco grandes eventos apocalípticos, cada um deles dizimando mais de 3/4 de toda a vida. E agora, infelizmente, estamos caminhando para a próxima extinção em massa:
- “Não é só o fato de que ocupamos mais da metade de todas as terras habitáveis para nos alimentarmos”.
- “E não é só o fato de que o dióxido de carbono que emitimos está causando o maior aquecimento global dos últimos 500 milhões de anos”.
- “Também não é só o fato de que estamos aquecendo e acidificando os oceanos, destruindo o equilíbrio natural e exterminando grandes áreas de vida marinha”.
- “Nem é só o fato de que estamos causando eventos climáticos extremos. Incêndios e secas que estão levando a Terra de volta a seus primórdios estéreis”.
- “Não é só o fato de estarmos fazendo uma dessas coisas, E sim o fato de estarmos fazendo todas. Tudo ao mesmo tempo”.
As extinções aconteceram no Ordoviciano-Siluriano, 440 milhões de anos atrás, no Devoniano, 370-360 milhões de anos atrás, no Permiano, 250 milhões de anos atrás, no Triássico, 200 milhões de anos atrás, e no Cretáceo, 65 milhões de anos atrás. Ou seja, o impacto de uma extinção em massa não é sentido há 65 milhões de anos, mas tudo indica que agora estamos caminhando para a sexta grande extinção em massa. Só nos últimos 50 anos, as populações de vida selvagem reduziram em cerca de 70% em média.
E, dessa vez, não são asteroides, processos vulcânicos, ou outra ação que ocorreram independente dos seres existentes… nós é que somos os responsáveis.
Mesmo assim, apesar dessa previsão sombria, ainda há uma esperança, pois somos a primeira espécie nos 4 bilhões de anos de história da vida a entender o que está acontecendo com o nosso planeta, e foi nossa inteligência que nos trouxe até aqui e é a única coisa que pode nos salvar. E existe uma forma basilar para transformar a humanidade e que está diretamente relacionada com nossa inteligência: a educação.
Como diz a letra da música de Flavio Venturini (Por Mais): “Por mais que a humanidade não perceba os sinais que a cada amanhecer a vida traz. E por mais que o mundo esteja dividido, a vida é para somar”. E só somaremos através da conscientização que está intimamente relacionada ao saber… a educação.
A terra está passando por grandes mudanças e o foco para a neutralização do carbono está principalmente vinculado, por alguns que possuem interesse, ao valor monetário (créditos de carbono), mas deveria estar vinculado ao cumprimento das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS, em especial o ODS 4 e cujo objetivo é: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos, ou seja, conectando à educação como forma de saber e da conscientização mundial.
Importante ressaltar que na COP 28, a Declaração sobre a Agenda Comum para a Educação e as Alterações Climáticas foi aprovada por 28 países. A declaração estabelece um caminho claro para as nações agirem em três áreas principais:
(1) Incorporar a educação nas suas estratégias climáticas nacionais;
(2) Desenvolver políticas educativas inteligentes em termos climáticos e;
(3) Reforçar o financiamento para construir sistemas educativos resilientes ao clima.
Uma ação da COP 28 que acredito ser fundamental para o futuro, é a que se relaciona em “semear conhecimento: Rumo a cadeias de valor sustentáveis – que envolveriam a capacitação nas mais diversas áreas do conhecimento relacionadas as mudanças climáticas”, como por exemplo: cidades sustentáveis – ODS 11, pois as mesmas apesar de ocuparem somente 3% da superfície do planeta, representam até 80% do consumo de energia e 75% das emissões de carbono segundo a ONU.
Estudos globais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) de 2021 mostram que, embora 95% dos professores de ensino fundamental e médio entrevistados acreditam que o ensino da mudança climática é importante, menos de 30% têm recursos suficientes para ensiná-lo. Além disso, 70% dos jovens afirmaram ter dificuldades para explicar o que é mudança climática.
Segundo IPCC, a educação geral é o meio mais comum pelo qual as sociedades preparam os jovens para o futuro, incluindo um clima em mudança. Por isso, muitos países deram início à integração do tema da mudança climática nos currículos escolares, ao desenvolvimento de materiais de aprendizagem relevantes e à oferta de treinamento para os professores.
Nossas ações agora vão determinar o próximo capítulo na história da vida, mas seja qual for o futuro que nos espera e acredito, que todos gostaríamos de deixar um legado para as gerações futuras, um mundo melhor para eles. E o caminho para chegarmos lá está principalmente na educação com a conscientização que toda a humanidade em todas as partes do planeta precisa ter.
Precisamos conscientizar os governantes que a transformação está relacionada à educação. A educação é a melhor estratégia para mudar o mundo. Ela é capaz de conscientizar e transformar a vida das pessoas, tanto na prospecção de um futuro melhor, quanto na elevação do próprio ser social, garantindo que esse tenha conhecimento para absorver, interpretar e discorrer sobre a vida, em especial neste caso, as mudanças climáticas, inclusive na capacidade de garantir uma característica de reflexão nas pessoas.
A educação sobre mudança climática é o principal foco temático da Educação para o Desenvolvimento Sustentável – EDS da UNESCO agência líder das Nações Unidas na área, pois ajuda as pessoas a entenderem e lidarem com os impactos da crise climática, capacitando-as com o conhecimento, as habilidades, os valores e as atitudes necessárias para atuarem como agentes de mudança.
Como disse Nelson Mandela – Prêmio Nobel da Paz de 1993: “Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria, é uma concha vazia”. “Superar a pobreza não é gesto de caridade. É um ato de justiça. É a proteção de um direito humano fundamental, o direito à dignidade e a uma vida decente. Enquanto a pobreza persistir, não haverá verdadeira liberdade.”
Da mesma forma, uma educação de qualidade deve ser tida como instrumento para um bem maior, no qual uma sociedade inteira tenha plena consciência de seus atos e dos impactos que suas atitudes e das decisões que representam, ou venham a representar. Sem educação não há equilíbrio ambiental, não há segurança climática, não há direito humano fundamental, não haverá futuro…
Sem a conscientização que a educação promove no ser humano, os ciclos naturais da Terra serão drasticamente afetados, gerando ambientes hostis e totalmente inóspitos para os seres-humanos, como vem acontecendo paulatinamente pela ocupação desordenada, pelo desconhecimento ou mesmo pela ganância e ignorância humana.
A educação objetiva contribuir para a transformação equitativa e sustentável das estruturas com a finalidade de alcançar a sustentabilidade ambiental, a criação de empregos decentes, a redução da pobreza e a melhoria do bem-estar humano, assim como oportunizar novos caminhos, melhorando a vida das pessoas através da implementação dos 17 (dezessete) ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 2030 da ONU, com ações para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar para todos, proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas.
A educação como direito fundamental se concretiza na decisão tomada por toda uma comunidade de construir e viver uma qualidade social onde os Direitos Humanos e a vida digna sejam possíveis para todos, como está explicitado nos primeiros artigos da Constituição Brasileira.
O Estado de Mato Grosso/Brasil por meio da educação assim como dos créditos de carbono, entre outros mecanismos, tem grande potencial para liderar um novo modelo de desenvolvimento, mais verde e inclusivo, e essa transição se viabiliza com a atração de investimentos nacionais e internacionais para promover a sustentabilidade.
É importante aproveitar a visibilidade que o país está tendo em 2024, por conta da reunião que já ocorreu do G20 no Rio e em São Paulo, e em 2025 com a COP 30 em Belém para apresentação de projetos dos povos originais e indígenas para fundos e investidores e formulação de parcerias para desenvolvimento sustentável em especial a educação (com tripé: social – econômico – ambiental).
Desta forma, mostraremos ao mundo modelos que aliam crescimento econômico, preservação ambiental e reconhecimento/valorização da rica cultura e conhecimento desses povos, além de mostrar ao mundo que temos buscado e desenvolvido modelos inovadores capazes de dar escala a projetos estruturantes que valorizam ativos únicos, relacionados inclusive à educação indígena com a possibilidade da construção da primeira Universidade Indígena do Xingu.
Segundo a ONU existem 3,45 bilhões de pessoas altamente vulneráveis às mudanças climáticas que o planeta vem enfrentando, ou seja, cerca de 45% da população mundial. E o tempo está se esgotando para proteger as pessoas mais vulneráveis do mundo, e que são as mais atingidas pela crise climática. Juntos, podemos através da educação ambiental, ajudar a liderar o mundo em direção a um caminho de desenvolvimento mais justo, inclusivo e sustentável.
Ao considerar os esforços contínuos da Organização das Nações Unidas – ONU, fica claro que a educação ambiental é uma necessidade urgente e uma responsabilidade compartilhada. À medida que avançamos para 2025, há uma oportunidade renovada para reafirmar nosso compromisso com o Protocolo de Kyoto e o meio ambiente, através da educação e da ação para neutralização do Carbono e dos gases do efeito estufa.
Segundo o Grão Mestre Albino Neves: “O que seria do mundo se não existissem os sonhadores?
“…Toda a humanidade deveria sonhar em fazer desse mundo. Um mundo melhor, onde não haja mais fome, nem crianças, jovens e velhos abandonados, vivendo ao relento, sem teto, sem pão, sem estudos, sem amparo a saúde”.
Mas acredito que é preciso mais que sonhar…. É preciso sonhar e agir para a construção de um futuro melhor e mais justo. Urge, pois através da educação, “identificarmos as questões prioritárias, refletirmos sobre as possibilidades de atuação e construirmos processos organizados de participação e capacitação da sociedade para construção coletiva”.
Como disse Geraldo Vandré em sua música – Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Essa parte da letra deixa claro o quanto é importante tomarmos as rédeas das nossas vidas ao invés de ficar esperando que alguém o faça por nós. Mostra o quanto é importante fazer acontecer, pois é só assim que ocorrem as mudanças e que os sonhos se tornam realidade.
Eu acredito!!! E o planeta, através da educação, precisa da ajuda, dos sonhos e da ação de quem também acredita…
Eduardo Cairo Chiletto