A Bíblia e as Mudanças Climáticas.

A Bíblia não menciona explicitamente o termo “mudanças climáticas” ou “aquecimento global“, mas oferece princípios e exemplos que podem ser aplicados à questão da gestão ambiental e do cuidado com a criação de Deus. Há interpretações que veem nos eventos climáticos atuais um cumprimento de profecias bíblicas sobre tempos difíceis e sinais nos céus. Além disso, a Bíblia enfatiza a responsabilidade humana em cuidar da Terra, um tema que se alinha com a necessidade de ações para mitigar os impactos das mudanças climáticas

Mas o que a Bíblia diz sobre o meio ambiente e a criação de Deus? “Tomou, pois, o Senhor Deus o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” (Gênesis 2:15). Aqui vemos o papel do ser humano como cuidador da Terra, não como destruidor. Essa ideia de “cultivar e guardar” é muitas vezes interpretada como um chamado à administração responsável do meio ambiente — o que hoje chamamos de sustentabilidade.

O livro de Gênesis relata que Deus criou o mundo e confiou ao ser humano a responsabilidade de cuidar dele. Sobre a responsabilidade humana: a Bíblia mostra que o ser humano tem um papel de mordomo da criação, com a tarefa de cultivar e guardar o jardim do Éden. A Bíblia também aborda a importância de cuidar dos mais necessitados, e as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. 

Alguns versículos, como Lucas 21:11 e Timóteo 3:1-4, falam de tempos difíceis e acontecimentos assustadores no futuro, o que pode ser interpretado como uma referência a eventos climáticos extremos. Lucas 21:25-26 menciona sinais nos céus como parte de eventos futuros, o que pode ser associado a mudanças climáticas ou fenômenos astronômicos

Vale ressaltar que a Bíblia oferece princípios importantes sobre o cuidado com a criação de Deus e a responsabilidade humana em protegê-la. Ela também enfatiza a importância de cuidar dos pobres e necessitados, e as mudanças climáticas têm um impacto desproporcional sobre essas populações. Mas ela também oferece esperança para o futuro e a promessa de restauração da criação, o que pode ser uma fonte de motivação para a ação climática. Desta forma, é importante defender políticas públicas que visem a mitigação das mudanças climáticas e a proteção do meio ambiente

Consequências da má administração principalmente pelos gestores públicos:

Vale ressaltar que segundo Mateus 7:16-20: “Pelos seus frutos os conhecereis.” Jesus ensina que as ações de uma pessoa revelam sua verdadeira identidade, mais do que suas palavras. E o livro de Provérbios contém numerosos versículos que destacam a sabedoria de agir com retidão e a importância de colher os frutos das próprias ações.

Em diversos momentos bíblicos, a desobediência e o descuido com a criação resultam em consequências severas. Embora a Bíblia não fale de mudanças climáticas no sentido moderno (como o aquecimento global causado por CO₂), ela mostra que as ações humanas têm impacto direto sobre a terra: “A terra está contaminada por causa dos seus moradores, porque transgridem as leis, violam os estatutos e quebram a aliança eterna.” (Isaías 24:5). Este versículo pode ser interpretado como uma advertência sobre a degradação ambiental causada por irresponsabilidade e ganância dos gestores públicos.

Importante dizer sobre o Inferno de Dante: a crítica à gestão pública corrupta e negligente poderia ser representada pelos círculos do Inferno que lidam com a violência, a fraude e a traição, especialmente aqueles que causam sofrimento aos outros através de seus atos. Gestores públicos que se envolvem em corrupção, abuso de poder e negligência poderiam ser equiparados a figuras condenadas a esses círculos, enfrentando punições que refletem a gravidade de seus pecados contra a sociedade. Neste caso específico, a omissão de ações do combate as mudanças climáticas que afetam especialmente a população de baixa renda, pobres e os despossuídos.

Círculos do Inferno e Gestão Pública:

  • Sétimo Círculo (Violência): Este círculo, com seus rios de sangue fervente, representa a violência contra o erário público, o abuso de poder e a má gestão que causa sofrimento à população
  • Oitavo Círculo (Fraude): Gestores que se envolvem em corrupção, desvio de recursos e outras formas de fraude podem ser equiparados aos que estão nesse círculo, sofrendo as consequências de suas ações enganosas
  • Nono Círculo (Traição): Figuras que traem a confiança pública, quebram acordos e compromissos com a sociedade, poderiam ser destinadas a este círculo, o mais profundo e sombrio do Inferno

Ou seja: a obra de Dante oferece uma poderosa imagem para criticar a má gestão e a corrupção no âmbito público. Ao imaginar os gestores públicos como personagens do Inferno, Dante nos convida a refletir sobre as consequências de seus atos e a importância de uma gestão ética e responsável, que priorize o bem-estar da sociedade

O inferno para gestores públicos que não cuidam dos despossuídos e do meio ambiente não é feito de fogo, mas de espelhos. Lá, são condenados a encarar eternamente os rostos daqueles que ignoraram: crianças sem escola, mães sem abrigo, rios mortos, florestas calcinadas, favelas esquecidas e povos indígenas silenciados e omissões as mudanças climáticas.

Nesse inferno, não se ouvem gritos — apenas o silêncio ensurdecedor da omissão. Cada decisão negligente, cada verba desviada, cada floresta desmatada sem remorso, cada árvore cortada nas ruas por conta de fiação elétrica e/ou telefonia, retorna como uma acusação sem apelo.

Gestores que se enriqueceram enquanto os pobres adoeciam bebendo água contaminada são obrigados a assistir, sem fim, ao sofrimento que poderiam ter evitado. Não é punição divina, mas consequência ética. Pois quem ocupa o cargo público e ignora o bem comum transforma-se e é cúmplice da injustiça. O termo servidor público, significa servir ao público. Ou seja, com o objetivo de prestar serviços à sociedade.

Servir ao público não é apenas cumprir tarefas administrativas ou técnicas; é atuar com responsabilidade social, ambiental e ética. Em um contexto de emergência climática, esse papel ganha ainda mais relevância. As mudanças climáticas afetam diretamente a vida da população, especialmente dos mais vulneráveis. Isso exige que os servidores públicos – independentemente da área de atuação – considerem os impactos ambientais em suas decisões, políticas e serviços.

Importante dizer que a gestão ambiental pública envolve o uso e estabelecimento de políticas ambientais com o objetivo de melhorar o ambiente e o bem-estar geral da população, tais políticas são implementadas por meio de programas e atividades que promovem a conscientização ambiental, envolvendo diversos setores da sociedade, e a implementação dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Além disso, a própria administração pública pode atuar como exemplo e promover a conscientização ambiental junto à sociedade. Ao adotar práticas sustentáveis em suas próprias instalações e processos, o governo demonstra seu compromisso com a preservação do meio ambiente e incentiva a população a seguir o mesmo caminho. E como isso se aplica:

  • Um urbanista precisa pensar em cidades mais sustentáveis e resilientes a desastres naturais.
  • Um gestor de compras públicas pode priorizar fornecedores com práticas sustentáveis.
  • Um educador pode incluir a questão climática em seus projetos pedagógicos.
  • Um profissional da saúde deve estar preparado para lidar com doenças agravadas por eventos climáticos extremos.

Portanto, servir ao público hoje implica também servir ao futuro – adotando práticas que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas e promovam a justiça ambiental.

O exemplo de Madre Teresa de Calcutá, que se dedicou a servir os mais necessitados, pode inspirar ações em relação às mudanças climáticas. Sua dedicação e compaixão oferecem um modelo de como abordar os problemas sociais e ambientais com um senso de urgência e responsabilidade

Embora Madre Teresa não tenha discutido diretamente as mudanças climáticas, seu trabalho com os pobres e marginalizados demonstra um compromisso com a dignidade humana e a justiça social, valores que são essenciais para enfrentar os desafios ambientais do nosso tempo. Essa perspectiva pode ser aplicada à questão das mudanças climáticas, que afeta desproporcionalmente as populações mais vulneráveis.

As mudanças climáticas representam um desafio existencial para a humanidade, com impactos cada vez mais severos e generalizados. A gestão do planeta pela humanidade, com foco em ações sustentáveis e justas, é crucial para mitigar esses efeitos e garantir um futuro habitável para todos. E vale ressaltar mais uma vez que as mudanças climáticas afetam principalmente os mais pobresum tema que a Bíblia trata com muita ênfase: o cuidado com os marginalizados, os oprimidos e os vulneráveis. A crise climática, portanto, é também uma questão moral e espiritual.

A Bíblia também fala da esperança de uma nova criação: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora.” (Romanos 8:22). Esse “gemer da criação” pode ser associado ao sofrimento do planeta, mas a promessa bíblica é de renovação, não destruição eterna.

O aquecimento global em si não é descrito literalmente na Bíblia, mas os princípios de cuidado com a criação e responsabilidade humana estão presentes. Ele pode ser interpretado à luz da fé, como uma consequência do pecado humano. Não há um único “versículo” que diga que o mundo vai aquecer por causa do CO₂, mas há muitos textos que falam sobre justiça, responsabilidade e juízo.

Alguns grupos interpretam os efeitos do aquecimento global (secas, desastres naturais, fome) como sinais dos tempos, descritos no Apocalipse ou em outros textos proféticos: Apocalipse 8:7 — “…foi lançada sobre a terra a primeira trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue…”. Mateus 24:7 — “…haverá fomes e terremotos em vários lugares.”

Como está no Vatican News: Os efeitos da mudança climática são devastadores. Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e tempestades tropicais, estão aumentando em frequência e gravidade”. Os povos menos desenvolvidos, em particular, estão sofrendo os efeitos devastadores.

Ou seja: A Bíblia não fala diretamente de mudanças climáticas, mas oferece princípios éticos e espirituais que nos incentivam a cuidar da Terra. O tema é cada vez mais discutido por teólogos e líderes religiosos, que vêem a crise climática como uma questão de fé, justiça e responsabilidade.

O cardeal, Pietro Parolin, destacou “a desproporção injusta entre os danos ambientais causados ​​pelas nações ricas, principalmente no Norte global, e o sofrimento suportado pelas nações mais pobres no Sul global…” Ou seja: como disse minha irmã (Maria Cláudia Cairo Chiletto – Cantora da Arquidiocese do Rio de Janeiro – @cantoraclaudiacairo)…“a palavra convence, mas o exemplo arrasta”.

Importante dizer que a frase:  “A palavra convence, mas o exemplo arrasta” reconhece o poder da comunicação, mas enfatiza que o comportamento consistente e autêntico de alguém tem um impacto muito mais profundo e duradouro na vida dos outros. É um lembrete de que a verdadeira influência vem não apenas do que dizemos, mas do que fazemos

A Bíblia enfatiza a importância do exemplo em várias passagens. Em João 13:15, Jesus diz: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. Em Tito 2:7, Paulo instrui: “Em tudo, seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo o que é bom”. Essas passagens destacam que o comportamento do líder ou mestre é fundamental para influenciar positivamente aqueles que o seguem. 

E volto a dizer: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré: Para não dizer que não falei das flores). Essa frase pode ser interpretada como um apelo para que as pessoas não esperem que outros resolvam o problema, mas que cada um tome medidas em sua vida cotidiana para reduzir o impacto ambiental

E como está na letra da música “Uma Canção é Pra Isso”do Skank: “… Pra consertar / Pra defender a cidadela / Pra celebrar / Pra reunir bairro e favelaPra clarear a escuridão / E o mundo encerra / Pra balançar / Pra reunir o céu e a terra…”

Biblicamente, há princípios que apoiam a ideia de cuidar da Terra e alertas sobre as consequências do descuido moral e espiritual. Ou seja, cristãos podem ver sentido espiritual e moral na responsabilidade ambiental — algo que está sim presente nas Escrituras.

Eduardo Cairo Chiletto

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About Eduardo Cairo Chiletto

Arquiteto e Urbanista - Presidente da Academia de Arquitetura e Urbanismo-MT. Coordenador Nacional de Projetos da PAGE - Brasil (2018 - 2023). Secretário de Estado de Cidades-MT (2015-2016)... Conselheiro e Vice-presidente do CAU/MT - Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (2015-2017)
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