A globalização foi determinante na principal característica histórica do processo de urbanização em nosso país, a desigualdade, a exclusão territorial e o desrespeito pelo local. Ao longo de décadas foi-se construindo uma democracia interrompida, freqüentemente, por períodos ditatoriais e a poucas décadas atrás por uma política de desrespeito ao nosso patrimônio cultural – material e imaterial – uma verdadeira exclusão patrimônio-social-cultural visivelmente constatada nas cidades brasileiras e principalmente em nossa capital, Cuiabá, claramente observadas no entorno do nosso centro tombado.
Não podemos esquecer que o centro histórico de uma cidade é sua referência, o coração pulsante de uma cultura. Preservá-lo significa valorizar as tradições, as lendas, os mitos, o folclore, a civilização e nossa cidadania. Intervenções em áreas tombadas e em seu entorno podem vir a comprometê-la.
Deduz-se então que a intervenção de um viaduto projetado nesta área para atender as questões de mobilidade urbana comprometerá a visibilidade da área tombada e conseqüentemente nosso patrimônio histórico, principalmente a área remanescente do período da mineração, que compreende a igreja do Rosário e São Benedito, uma das principais referências culturais da nossa cidade.
Violar, macular esse patrimônio histórico artístico nacional tombado seria, no mínimo, um desrespeito aos nossos antepassados, à nossa cultura e à nossa nação. Um desrespeito a nós mesmos, à nossa cidadania.
Cuiabá necessita crescer sem conflitos entre o desenvolvimento urbano e seu patrimônio cultural. Os conceitos que embasam o Planejamento Urbano dão enfoque às questões ambientais concomitantemente, ou melhor expresso, como questões urbano-ambientais.
A problemática socioambiental urbana esteve intimamente ligada ao esgotamento sanitário, aos resíduos sólidos, à qualidade da água e à poluição (inclusive e, sobretudo em nosso caso, à poluição visual), que fazem parte da problemática urbana de Cuiabá e que devem se constituir prioridades da ação municipal.
Na atual abordagem urbano-ambiental a manutenção dos espaços públicos e a preservação do patrimônio histórico – material e imaterial – são objeto da gestão ambiental do território urbano, de modo que ativos históricos são enfrentados como um patrimônio da sociedade e, portanto, preservados em seu todo para serem desfrutados pelas gerações atuais e futuras.
No “projeto de desenvolvimento” apresentado pela AGECOPA a Avenida da Prainha é uma das vias prioritárias e um dos principais eixos de intervenção, mas se-gundo a divisão técnica do IPHAN, não há especificações nem detalhamento no projeto na área que a avenida delimita como área tombada. Isso é projeto de desenvolvimento?
Apesar de carioca da gema, sou com muita deferência cidadão mato-grossense… Como muitos que aqui se encontram. Não sou cidadão amazonense, baiano, paulista e muito menos curitibano… Nada contra sê-lo, pelo contrário. Mas ter o título de cidadania de um estado significa entre outras coisas, ter respeito à cultura de onde escolhi para viver. Respeito não só ao meu estado, mas à minha cidade, aos indivíduos que aqui residem e principalmente aos antepassados desta terra… Pessoas tão queridas que aqui viveram e deram tanto amor por esse local.
Os “paus rodados” que me desculpem, mas amar o lugar onde se vive, respeitar suas tradições, sua história e lutar para preservá-lo é fundamental.
Espero e acredito que o “projeto de desenvolvimento” apresentado pela AGECOPA para a Avenida da Prainha deva ser pensado e priorizado como um projeto de desenvolvimento sustentável, que por sua vez nada mais é que planejar com enfoque holístico e sistêmico um desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.
É o desenvolvimento que não esgota os recursos naturais, culturais e históricos para o futuro. E nesta nossa questão específica, não compromete, não viola nem macula nosso patrimônio histórico tombado. De modo que os que aqui chegarem como eu e muito de nós, inclusive nossos filhos, netos e bisnetos possam desfrutá-lo e tê-lo como referência.
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Olá, Professor Chiletto!
É com grata satisfação que leio um artigo tão comprometido com Patrimônio Cultural do nosso povo mato-grossense!!!
Parabéns!
Conte conosco!
Arqª Vera Baggetti
Que loucura é essa!!!! Eu ainda não estava sabendo disso. O negócio não era a desapropriação dos imóveis lindeiros ao morro naquele trecho? O que entendi como lógico até porque do outro lado temos o centro tombado. Isso é chamado de “Projeto de Desenvolvimento”? De quem é a idéia?
Ando um pouco desanimada com os rumos do planejamento urbano em Cuiabá. Me parece que as coisas se perderam…..infelizmente! Temos um conselho de direito….mas não “de fato” e atuante como foi! Este deveria ser um assunto levado ao conselho e discutido…. lembra Chiletto do viaduto da Pça Ipiranga???
Cade a Prefeitura de Cuiabá? O que os técnicos do “extinto” (inacreditável!!) IPDU acham sobre isso?
Um grande abraço,
Arq. Cássia Abdalla
Oi Eduardo,
Realmente precisamos olhar para nossa cidade, com o compromisso do bem coletivo, mas preocupados com a nossa história.
Abraços
PAula Libos
Vamos “violar” o centro histórico !!! Com uma bela canção em viola, violão e viola de cocho….
Chiletto, não se preocupa não eles só vão comprar os trens (VLT) ja vai dar uma boa RT, ja gastaram e ainda vão gastar muito com projetos e propagandas, desapropriar, contruir os trilhos, estações e as trincheiras é outra história, projeto para próxima copa no Brasil.
“cabrito vigiando roça de milho não sobra nada”