Em Cuiabá já houve prefeitos que reagiram à má gestão escondendo-se atrás de suas razões. Outros superaram a expectativa da má gestão tendo a coragem de enfrentar a situação, estabelecendo diálogo honesto e franco com a sociedade.

Parece-me que hoje Cuiabá revive o primeiro caso…

Convidar a população do bairro para participar da proposta de um “projeto de urbanização”, dialogar e ouvi-la sobre a obra que o poder público pretende inserir no local é torná-la coautora e dona desse espaço.

Esta é a “fórmula mágica” que leva todos a cuidar do local como se fosse seu, e não apenas a autoridade pública. É a condição primeira para que a população desse sítio se aproprie do espaço público como se fosse extensão de sua casa, de sua morada e passe a conviver diuturnamente no local.

Mas é claro… Só se consegue isso se o gestor maior do poder público (Governador e Prefeito) “gostar de gente”…

Bom, retomemos o raciocínio… Projeto Orla do Porto.

Como cidadão mato-grossense, arquiteto e urbanista estou profundamente preocupado com nossa cidade e os rumos e descaminhos que a atual gestão municipal vem tomando em relação à urbanização, à paisagem urbana e às questões ambientais envolvidas em todo esse processo que já defini anteriormente de “Preocupante Efervescência”, que hoje vivencia nossa Cidade Verde.

As obras de infraestrutura para “preparar nossa cidade para a Copa”, vem paulatinamente destruindo, extirpando e dizimando nossas áreas verdes e mais recentemente com um “projeto” de ocupação da beira do nosso querido Rio Cuiabá e o desmatamento da sua mata ciliar para ocupação especulativa.

E o pior de tudo, com aval da secretaria que cuida do meio ambiente…

Este projeto da Orla do Porto feito e apresentado à população pela Prefeitura Municipal de Cuiabá em “audiência pública” é uma ação predatória de uma prefeitura que ignora a importância histórica do Rio Cuiabá, do Porto e suas margens. Que ignora a população de um dos bairros mais antigos de Cuiabá e suas tradicionais famílias. Que ignora uma “Cuiabá garimpo” de Manuel de Barros, do Beco da Marinha onde nasceu, e que com o passar dos 294 anos se tornou uma Cuiabá metropolitana de todos nós…

Este projeto não possui utilidade pública ou de interesse dos moradores do bairro do Porto. Invade em mais de 14.000,00 m2 a área de preservação permanente (APP) do Rio Cuiabá, onde se encontra grande variedade de fauna e flora, como por exemplo, os sinimbus que lá habitam e que serão expulsos do local por interferência antrópica.

Esta prefeitura se faz carente em suas ações quando privilegia neste histórico bairro do Porto a obra física em detrimento da obra simbólica, quando privilegia o automóvel em detrimento do pedestre, quando privilegia a via carroçável em detrimento do passeio público.

Lamentável!!!

Eduardo Chiletto
Conselheiro Federal do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil